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Foto do escritorAdriana Leite

Comer no Brasil está cada vez mais caro

Alimentos pressionaram o custo de vida em 2020 e neste ano devem continuar esvaziando a carteira do consumidor.



O setor supermercadista foi um dos poucos que saiu quase ileso da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. A alta de preços provocada pelo mercado internacional de commodities, quebra de safra de alguns produtos e o consumo das famílias, que foi salvo em parte pelo pagamento do auxílio emergencial, garantiram números positivos para o segmento em 2020.


Em compensação, o consumidor sentiu no bolso que está cada dia mais difícil encher o carrinho de compra. E as perspectivas para este ano não são muito animadoras. Se você é bom de garfo, prepare a carteira porque os alimentos vão continuar pressionando o seu orçamento doméstico.


Itens básicos como arroz, feijão, óleo de soja e até a nossa querida banana – que já ornamentou a cabeça da pequena notável Carmem Miranda – apresentaram alta de preços no ano passado. E nada de baixarem no começo de 2021. Quem vai toda semana aos supermercados, feiras livres e varejões não cansa de reclamar que botar comida na mesa está muito caro.


Os números da pesquisa da cesta básica em São Paulo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que o aumento do conjunto de produtos foi de 24,67%. Quando esse dado é confrontado com a inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é que se observa o tamanho do rombo no bolso do brasileiro.


“O IPCA fechou o ano em 4,23%. Vale lembrar que a inflação oficial pauta o aumento dos salários. No ano em que a pandemia acabou com milhões de postos de trabalho e que os reajustes salariais foram praticamente zero, a subida dos alimentos pesou demais no orçamento do brasileiro, principalmente da população mais pobre”, diz o economista da Faculdade de Economia da PUC-Campinas, Cândido Ferreira da Silva Filho.

EUA X China


No detalhamento, o especialista esmiúça os dados e aponta que só o grupo de alimentos dentro do cálculo do IPCA teve uma alta de 14,36% em relação a 2019. Ferreira Filho informa que as exportações de óleo de soja para a China fizeram o custo subir no Brasil. Já a quebra da safra de arroz no Brasil em razão da seca fez o preço disparar nos supermercados.


“A briga entre Estados Unidos e China provocou uma mudança da estratégia dos chineses de compra de óleo de soja. Eles deixaram de lado a busca do produto no mercado norte-americano e substituíram pelo óleo brasileiro. O resultado foi o crescimento das exportações e preços mais elevados no mercado interno”, analisa o professor da PUC-Campinas, completando que as subidas dos alimentos foram generalizadas e não salvou nem o cafezinho de todo dia.

Tempos duros


O economista traça um futuro bem complicado para este ano. Ele enumera os fatores que irão impactar a vida do brasileiro: desemprego em alta, queda do poder de compra dos salários (de quem ainda conta com um trabalho), fim do auxílio emergencial, inflação subindo e a estagnação econômica que o Brasil vive já tem alguns anos e se agravou muito com a pandemia da Covid-19.


Diz Ferreira SIlva Filho que as pessoas estão endividadas, sem perspectivas de encontrar um novo trabalho e quem tem um emprego dificilmente terá um reajuste salarial. “Mas a inflação sobe. Mesmo se o cenário internacional de pressão pela compra de commodities mudar a partir de agora com a mudança do governo americano de Trump (Donald Trump) para Biden (Joe Biden), que deve alterar o clima entre EUA e China, os produtos não terão uma queda de preços na mesma proporção dos aumentos do ano passado”.


O quadro é terrível para os mais pobres, que dependem dos salários para colocar comida na mesa, e contavam com o auxílio emergencial para garantir o mínimo para sobreviverem, analisa o professor. Mas ele alerta que a classe média também sofre com a pressão de preços dos alimentos. “Só os muito ricos continuam mantendo o padrão. Na verdade, a pandemia deixou essa pequena camada da população ainda mais abastada. O abismo da desigualdade ficou ainda mais profundo”, diz o economista, que ainda critica a inépcia do governo Jair Bolsonaro e a tentativa do governador João Doria de elevar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias de Serviços (ICMS) de alimentos no meio da crise que vivemos hoje.





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