Coveiras, mecânicas, pilotos de avião, maestrinas, pedreiras e tantas outras ocupações que antes eram dominadas por homens hoje já contam com a presença feminina
Pioneiras e guerreiras: a maestrina Claudia Feres e as coveiras Juliane Marinho e Lívia Fernandes
Desbravar é um verbo que está no vocabulário das mulheres. Mas não é só ele: a lista vai longe com palavras como coragem, determinação, pioneirismo e luta. Neste Dia Internacional de Mulher, em que o sexo feminino ainda briga por respeito e condições iguais no mercado de trabalho, mulheres fortes e corajosas mostram que elas podem fazer o que quiserem e em pé de igualdade com o sexo masculino.
Quando prestou o concurso da Serviços Técnicos Gerais (Setec), em Campinas, a trabalhadora de serviço de campo, Juliane de Assis Marinho, de 35 anos, nem imaginava que uma de suas atribuições seria atuar como coveira.
“Depois que passei no concurso, achei que ia trabalhar na área de limpeza. Mas quando fui designada para trabalhar como coveira, peguei o jeito logo. Em casa, eu sempre fiz serviço que as pessoas diziam que era de homem. Então, me acostumei fácil”, conta.
Ela brinca que o marido Rodrigo, que é pedreiro, já falou que não trabalharia como coveiro. “Quando comecei a trabalhar aqui, fui muito bem recebida por todos os outros trabalhadores. Na minha família, sempre tem uma brincadeirinha ou outra porque trabalho em um cemitério como coveira. Meu marido disse que nunca faria o meu trabalho”, diz.
Mãe de dois filhos, Juliane afirma que sempre se comove em velórios e enterros de crianças e adolescentes. Ela também conta que em uma década de trabalho como coveira aprendeu a importância da humildade e de manter um bom relacionamento com as outras pessoas.
Colega de trabalho de Juliane, Lívia Maria Dias Fernandes, de 39 anos, trabalha há dois anos como coveira e afirma que a mulher pode chegar onde ela quiser. “Não há mais limites. Todo serviço a mulher consegue fazer hoje. Agora, a mulher faz o que ela o que quer”, afirma ela.
Assim como Juliane, quando ela fez o concurso pensou que fosse trabalhar na limpeza ou serviços gerais. “Sempre trabalhei como cozinheira. Para mim ser coveira, é um serviço normal como qualquer outro. Quando eu prestei o concurso, pensei que era para limpeza e café. Não imaginava que era para trabalhar como coveira. Hoje eu cavo sepulturas, ajudo nos enterros, faço exumações”, conta.
Lívia trabalhou um ano no Cemitério dos Amarais e agora está na Saudade. “Uma das atividades mais complicadas é abrir cova. Mas nós conseguimos fazer como qualquer outro funcionário daqui. Minha mãe acha estranha a minha profissão. Mas faço tudo com dedicação”, afirma.
Ela conta que as pessoas acham estranho ver mulheres trabalhando como coveira. No dia a dia, o jeitinho mais carinhoso e atencioso das mulheres serve bastante na hora de falar com a família sobre momentos difíceis como a saída do velório para o enterro. “É preciso entender a dor da família e conversar com paciência”, relata.
Pioneira na batuta
Desde pequena, Claudia Feres tem a música como parte essencial de sua vida. Ela começou a aprender piano aos 4 anos com a mãe, que criou uma escola de música que se transformou no local das brincadeiras da futura maestrina.
“Eu comecei estudando música muito cedo. Comecei estudando piano com a minha mãe quando eu tinha 4 anos de idade. Minha mãe fundou uma escola de música. Fui conhecendo vários instrumentos e aprendendo”, relata Claudia, lembrando que a primeira experiência como regente foi quando a mãe pediu para que ela ensaiasse a orquestra de crianças da escola.
Depois que subiu no pódio, ela teve certeza que nunca mais queria sair daquele lugar. Claudia estudou na Faculdade de Música da Unicamp, no curso de Regência e Composição. “Hoje, temos muitas mulheres que tocam em orquestras. Aumentou a quantidade de mulheres tocando instrumentos de metais e isso é um grande avanço. Antes, as mulheres tocavam mais os instrumentos de cordas”, observa a maestrina.
Mas uma mulher com a batuta nas mãos ainda causa surpresa. “Ainda hoje é uma surpresa ter uma mulher regente. Não são só os músicos homens. Muitas mulheres também se surpreendem. É sempre algo curioso e adverso. Ainda não estabelecemos uma relação de naturalidade com uma mulher regendo uma orquestra”, avalia a regente, que hoje é a titular e diretora artística da Orquestra Sinfônica Municipal de Jundiaí.
Claudia diz que ter participado do projeto Avon Women in Concert deu visibilidade ao trabalho dela e foi muito importante para a carreira da maestrina. “Estar à frente da Orquestra em Jundiaí é uma conquista importante especialmente para uma pessoa de uma época que, praticamente, não existiam mulheres regentes”, celebra.
Para ela, é importante trazer o feminino para dentro das orquestras. Ela espera que seja ampliada a quantidade de mulheres em cargos de liderança nas orquestras para que mais espaços sejam abertos para que mulheres toquem ou sejam maestrinas.
Claudia Feres vai se apresentar com a Orquestra Sinfônica de Campinas e a solista Juliana
D´Agostini, na próxima sexta-feira (11), às 20h, e no sábado (12), às 19h, no Teatro Castro Mendes, nos concertos em homenagem ao Dia Internacional da Mulher e abertura da temporada da Sinfônica. A entrada é gratuita, com os ingressos distribuídos na bilheteria do teatro com duas horas de antecedência do início da apresentação.
Mais do que um dia de celebrações, 8 de março é um dia de luta. Que mais Claudias, Lívias, Julianes e tantas outras pioneiras possam desbravar caminhos que antes eram apenas reservados aos homens.
Comments